Recebi o honroso convite do Escritor Sérgio Dias, autor e criador da Página "Sofá e Ideias", para ser a cronista desta página. Espero que possa apresentar um bom trabalho e colaborar arduamente com o crescimento da Literatura nas Redes Sociais.
Até mais pessoal!
Escritora Tereza Reche.
20 de Julho de 2015.
Fragmento de "O Silêncio de Euller"
- Todos irão
dormir nos apartamentos Euller, quero que fique aqui, no Iate comigo. – disse Charlyni trazendo o rosto de Kutner
para ela, ele meneou a cabeça positivamente e de maneira serena aceitou o
pedido. Foi exatamente o que ocorreu, todos, um a um subiam para os
apartamentos. Roberto preocupado se aproximou da filha que se encontrava
deitada na areia ao lado de Kutner . Já o físico, apenas observava as lentas
ondas do mar.
– Filha, não vem
conosco?
- Acho que
ficaremos no Iate, mas se resolver, subiremos depois pai.
- Seja
consciente, por favor, qualquer coisa me ligue, a qualquer hora. – disse incisivo temendo que algo pudesse
ocorrer, sem que eles pudessem ajudar por estarem todos no apartamento.
- Sim pai, e já
são três da manhã, daqui a pouco amanhece, fique tranquilo e vá descansar. Roberto mesmo ainda contra a vontade se
despediu, seguindo ao apartamento. O casal ainda permaneceu ali mais alguns
minutos, até que um sono iniciava a envolvê-los. Charlyni temendo que estivesse
forçando demais Kutner tomou sua mão, o levou para o Iate novamente. Já no
quarto sentiu-se mal em ocupá-lo com o paciente, uma mistura de moralidade e
profissionalismo talvez, a tomou repentinamente.
Então segurou
delicadamente o rosto dele prendendo sua atenção e disse:
- Vou para o
outro quarto, qualquer coisa, a porta estará aberta, é só bater antes, para que
eu acorde. Entendeu Euller?
Ele responde que sim com a cabeça, então ela
o deixou. Receosa, porém seguiu para o outro quarto que ficava próximo do qual
ele estaria. Passada uma hora e Charlyni havia completamente perdido o sono,
então percebeu que a porta se abriu devagar, permaneceu silente, sem se mover,
queria assistir o que ele faria, certa que poderia correr riscos, mas precisava
confiar nele. Passo a passo sentiu um temor subir pela espinha, e se ele
estivesse tendo um surto, uma alucinação? Foi um pensamento tão súbito, que lhe
travou os movimentos de fuga por um momento, e neste exato instante sentiu que
ele puxou delicadamente seu lençol para que não a descobrisse. Charlyni
permaneceu durante meia hora imóvel, e somente depois desse tempo voltou-se
para trás lentamente, para verificar o estado de Kutner. E lá estava ele,
adormecido profundamente, em uma tranquilidade jamais vista em seu semblante.
A psiquiatra
virou-se calmamente para ele, e olhando-o, centímetro a centímetro entendeu; o
amor, o perfeito, qual sua amiga Wendy lhe falara anos atrás, estava agora
diante de seus olhos. Nem que ela vivesse apenas até ali. Seria o bastante.
Os dias se passaram e todos, até a véspera do
ano novo Euller e Charlyni vivenciaram a mesma situação, a psiquiatra fez o
teste e o colocava em um quarto, tempos depois, Kutner silenciosamente surgia
em seu quarto, e adormecia em sua cama. Mas na noite do dia dois de Janeiro,
pouco antes de a família Ness voltar para São Paulo, pois os Polizeli e o
convidado Nelson também haviam subido a serra, Charlyni fez diferente. Pronto
para dormir, Euller já estava condicionado a entrar em seu quarto, entrou,
deitou-se, e apagou o abajur. Minutos depois, Charlyni entrou, fechou a porta e
deitou-se ao seu lado. Kutner ficou olhando-a confuso, não compreendendo a
mudança do ritual... Mas após analisar durante alguns instantes a nova
situação, finalmente voltou o rosto no ombro dela e adormeceu em seus cabelos.
Enquanto era absorvido pelo sono, a psiquiatra sorriu de forma tranquila; ao
vê-lo bem, e totalmente envolvido por ela, como ela, se encontrava por ele.
Mas não poderiam
deter-se em tranquilidade apenas. Nos sonhos dela ou dele, já não se sabia
agora, pois estavam fundidos em alma e espírito. As mãos se entrelaçavam sem
aviso prévio, os olhos não viam aqui, mas perdidos e dissipados nos mares de
seus pensamentos... Como se fossem atraídos por uma força inundando-os
torrencialmente, num súbito e forte lapso de segundo, rompeu-se todo silêncio,
pelo menos o da paixão que havia anos, somente permeava o sonho de ambos.
Buscou-o entre o furor e a calma, ele aceitava de maneira despercebida e ao
mesmo tempo desejosa... E quando se viram os olhos no mesmo instante, já não
sabiam como e quando se deu início o amor, mas já estavam um no outro, e mais
ainda fundiam-se agora, não apenas em alma e espírito, mas num todo, e como o
velho Ness havia dito, eram um!