quinta-feira, 3 de março de 2016






- ENTREVISTA COM AUTORES IX -
POR TEREZA RECHE

Raphael Miguel

A nona entrevista da Coluna ENTREVISTA COM AUTORES, traz o escritor Raphael Miguel. Raphael nasceu em uma manhã chuvosa e fria da remota e charmosa cidade de Botucatu SP. Escritor por paixão, participou de diversas antologias de contos e poemas, além de escrever crônicas sobre cultura pop na Revista Varal do Brasil. Possui diversos projetos literários em andamento, incluindo o lançamento de seu primeiro livro solo intitulado O LIVRO DO DESTINO, pela Chiado Editora.

Entrevista


TEREZA RECHE
Como e quando o sr(a) iniciou sua carreira, e o que o levou a isso?

RAPHAEL MIGUEL
Sempre gostei muito de roteirizar, ditar diretrizes. Quando criança, não me contentava com brincadeiras banais. Para mim, a diversão tinha que ter uma história por trás. Lembro-me de desenvolver histórias em quarinhos com desenhos toscos e argumentos infantis. Não poucas foram as vezes que elaborei um histórico aos brinquedos, bonecos e carrinhos. Creio que foi desde esta experiência lúdica que me interessei por histórias. No colegial, era sempre elogiado nas aulas de redação e na adolescência, arrisquei poucas escritas que acabaram se perdendo com o tempo. Escrevi desde argumentos iniciais de romances e contos até cartas e letras de músicas. Entretanto, não foi desta experiência que o amor à escrita se tornou uma constante. Foi apenas depois de formado (em Direito), casado e pai. Em 2012 tive uma espécie de constatação. Já que sempre gostei de roteirizar e já que havia me arriscado em alguns escritos anteriormente, por que não arriscar deixar a coisa um pouco mais séria? Foi então que comecei a escrever minha primeira história completa. Nasceu assim A ANGÚSTIA DO CONSELHEIRO, primeiro volume de A SAGA DE ESPLENDOR (ainda não publicada), uma ambiciosa história de fantasia medieval. Ao ver que aquilo era bom, não parei mais de escrever. Passei a investir em antologias e a publicar algumas escritas em forma de contos e poemas, iniciando essas publicações na metade de 2015. Em 2016 estou publicando meu primeiro livro solo, O LIVRO DO DESTINO, pela Chiado Editora.

TEREZA RECHE
Cite suas obras e onde encontrá-las por gentileza.

RAPHAEL MIGUEL
Sou um escritor iniciante. Minhas primeiras publicações, ainda no ano de 2015, consistiam em aparições em antologias de contos e poemas. Ao todo, foram mais de 15 participações em antologias e seletas nos mais variados gêneros literários e ainda outras a serem lançadas. Além desta base em contos e poemas, apresento crônicas na Revista Varal do Brasil, com distribuição gratuita, através de minha coluna chamada O TOP DO POP onde escrevo sobre cultura pop em geral. Agora, em 2016, estou publicando meu primeiro livro solo chamado O LIVRO DO DESTINO pela Chiado Editora, uma gigante do ramo e estou dedicado e empenhado na divulgação. Aliado a tudo isso, ainda tenho outros projetos literários em desenvolvimento, como a revisão de A SAGA DE ESPLENDOR – A ANGÚSTIA DO CONSELHEIRO (ainda não publicado) e a conclusão de ÁCIDO & DOCE. Para divulgação de todo esse material, conto com um site próprio, além da página pessoal no facebook.

Abaixo, alguns pontos onde encontrar meus trabalhos:

Site pessoal com informações sobre meus projetos:


Página do autor no facebook:


Página oficial de O LIVRO DO DESTINO no facebook:


Página oficial de O LIVRO DO DESTINO no skoob:


Site da Chiado Editora e sinopse oficial:



TEREZA RECHE
Você acha que a figura do “leitor” continua em segundo plano nas reflexões literárias?



RAPHAEL MIGUEL
Não. Antigamente, o escritor era um ser quase inacessível ao leitor e havia grande dificuldade em manter um contato de duas vias entre um e outro. O cenário mudou e com a facilidade do leitor em interagir com o escritor, aquele se tornou uma espécie de termômetro no próprio processo criativo. Não é difícil encontrar casos em que a perspectiva de leitores mudou drasticamente o rumo da história de um escritor. O leitor lê, comenta, reflete, interage, indica, critica, chama atenção e toma partido. Impossível dizer que continua em segundo plano.

TEREZA RECHE
A Literatura há alguns anos, vem tomando novo corpo, a tecnologia propiciou isso. Publicações virtuais, facilidade em se auto publicar, dentre outras vias. Ao seu ver, como escritor da atualidade, esse cenário é de fato benéfico à Literatura, ou precisamos rever nossos conceitos?

RAPHAEL MIGUEL
Em um primeiro momento, me parece bastante benéfico. Quantos talentos não foram negligenciados e desperdiçados por não conseguirem os olhos de uma grande editora? Com o novo cenário da escrita, muitos que não teriam chance conseguem um lugar ao sol. A tecnologia e a facilidade citadas na pergunta podem proporcionar uma maior visibilidade da história e do escritor. Por outro lado, há uma verdadeira enxurrada de publicações e, às vezes, a qualidade deixa a desejar. Agora, caberá ao leitor filtrar aquilo que lê e ditar o veredicto se o que leu é, de fato, bom ou apenas uma escrita oportunista e bem divulgada. 





TEREZA RECHE
Qual o papel do escritor, em relação a disseminação e consequente transformação mental, intelectual e filosófica dos leitores como sociedade?

RAPHAEL MIGUEL
Não acredito que o escritor deva ser um formador de opinião, obrigatoriamente. Entretanto, quando o faz, deve ter noção da responsabilidade de tal ato. Aqueles que detêm a atenção dos holofotes devem ter consciência de que aquilo que dizem repercutirá. Se um escritor for expor sua opinião, deve fazer de forma responsável e consciente, pois muitos irão ouvir/ler suas palavras e as utilizarão como base para formar suas próprias opiniões. O verbo é SOMAR.

TEREZA RECHE
Qual a sua leitura de ficção brasileira hoje? É possível traçar vertentes e características?

RAPHAEL MIGUEL
Não vejo como um fenômeno nacional, mas mundial. A literatura brasileira reflete a estrangeira mais do que nunca. Inegável que existe uma crescente de obras com o tema distópico. A distopia ganha destaque a partir das ansiedades da sociedade com relação ao futuro. A humanidade caminha para o caos e as obras distópicas refletem essa preocupação ainda que disfarçada de entretenimento. Se fosse apontar o gênero literário que está em vogo hoje em dia, apontaria para a ficção distópica sem hesitar.

TEREZA RECHE
Escrita ou Vendas? Partindo do seu ponto de vista, qual desses substantivos femininos melhor se encaixaria no cenário literário atual? E por que?

RAPHAEL MIGUEL
Não podemos ser hipócritas ao ponto de acreditarmos que a escrita é mais importante que as vendas. No final das contas, apenas uma coisa importa no mercado: o potencial de venda de certo produto. Com os livros não é diferente. A partir do momento em que o livro transpassa o campo das ideias e se torna um produto, este será avaliado como um produto. Se o produto tem capacidade de venda, será melhor divulgado e, consequentemente, recebido. Por isso que é necessário haver cautela. Não é porque um livro vende bem que é uma boa escrita e, também, não é porque um livro é quase desconhecido que tem uma escrita ruim.

TEREZA RECHE
Como você avaliaria a literatura que se encontra no ranking dos melhores e mais vendidos?

RAPHAEL MIGUEL
A literatura que aponta no ranking dos mais vendidos é exatamente essa, a mais vendida. Quer dizer que o ranking sempre será ocupado por dois tipos que mais vendem: o gênero literário da moda e os escritores mais renomados. Isso reflete a qualidade da obra? Absolutamente. Alguns vendem apenas com o nome, outros vendem apenas pelo gênero, o que nem sempre é sinônimo de qualidade literária. O que deve haver é um filtro do grande público. 

TEREZA RECHE
Que problemática você destacaria na prática da difusão cultural no país? Como poderíamos resolver, senão amenizar tal situação?

RAPHAEL MIGUEL
Definitivamente, a falta do interesse do Poder Público em ver o povo mais culto. É deste desinteresse que todas as demais problemáticas se fazem presente, uma espécie de reação em cadeia maléfica e maldita. Se os governantes não se preocupam em propagar a cultura, por que os meios de comunicação com isso se não há incentivo? Para amenizar tal situação, deveríamos prestar mais atenção àqueles que elegemos como nossos representantes.



TEREZA RECHE
Como profissional literata, ao criar um novo livro, você exerce a escrita racional ou permite que a inspiração flua de maneira livre?

RAPHAEL MIGUEL
Racional-livre. (Risos); Em um primeiro momento, costumo traçar uma diretriz para o enredo não fugir ao controle. Nesse traço do roteiro original, exerço a escrita racional para não cair nas armadilhas pelo percurso. Já durante a escrita e desenvolvimento da trama, deixo com que a inspiração flua livremente e sem pudores. Não são raras as vezes em que me surpreendo com o ritmo no qual a história está correndo. Costumo dizer que escrever, às vezes, é como iniciar uma viagem sem GPS, pois você sabe aonde quer chegar, mas nunca tem certeza de como irá chegar até lá.

TEREZA RECHE
O que você, na pele de leitor, jamais leria?

RAPHAEL MIGUEL
Pode parecer demagogia, mas não há nada impossível de ser lido. Ao ler algo, devemos manter a mente aberta e isso não quer dizer que irá concordar com aquilo que lê. Ao afirmarmos que há algo que JAMAIS iríamos ler, estaríamos fechando milhares de janelas, oportunidades e até mesmo conceitos simplesmente por discordarmos de determinadas posições. Sou contra qualquer forma de intolerância irracional e a favor da discussão saudável e racional. Tenho meus gêneros preferidos e aqueles pelos quais não tenho apreço, mas dizer que JAMAIS leria algo... Parece-me exagero.

TEREZA RECHE
Escritor incondicionalmente o sendo por amor. Existe?

RAPHAEL MIGUEL
Certamente, ainda mais se levarmos em consideração que é difícil enriquecer com a literatura. Muitos escritores o fazem por hobby, não almejando qualquer retribuição financeira. Há quem encare a escrita como uma válvula de escape, uma distração. Tudo isso é uma forma de amor.

TEREZA RECHE
Por que na sua opinião, certos gêneros, por mais interessantes que pareçam ser, não vendem no mercado atual literário? Qual a estratégia, se é que existe, a ser posta em prática para que este obstáculo seja vencido?

RAPHAEL MIGUEL
Quando falamos em vendas, devemos ter bem claro que existem apenas dois tipos de produtos: os que vendem e os que não vendem. Alguns gêneros literários encontram um público imenso e fiel, outros gêneros sofrem com a falta de interesse do senso comum. O que deve ser mantido em foco é a abrangência da escrita. Talvez, aos gêneros menos populares resta apostar o marketing entre aqueles que já sinalizaram interesse. Apostar no público já existente, ainda que escasso, parece-me a solução mais adequada.



TEREZA RECHE
Cultura e Intelectualidade caminham de mãos dadas, entretanto não são homogêneas... Afinal, a sociedade está mais intelectualizada ou apenas mais “antenada”?

RAPHAEL MIGUEL
Mais antenada, definitivamente. Isso não é ruim, partindo do pressuposto de que todos (ainda que teoricamente) têm acesso à informação. O que a pessoa faz com todas as informações que recebe diariamente é o ponto central da questão. Enquanto alguns utilizam a informação para se tornarem mais ricos intelectualmente, o processo inverso se torna uma recorrente. Se por um lado, a sociedade se firma mais antenada, por outro, existe um grande risco de se ver alienada, um processo inverso, contraditório e perigoso.

TEREZA RECHE
Em que está trabalhando atualmente (livros)?

RAPHAEL MIGUEL
Paralelamente à divulgação de O LIVRO DO DESTINO, estou em processo de revisão final daquele que pode ser meu segundo livro solo, este chamado ÁCIDO & DOCE, com uma história frenética e intrigante sob o ponto de vista de dois protagonistas.

TEREZA RECHE
De suas obras, qual sente maior apreço e qual sua sinopse resumida?

RAPHAEL MIGUEL
A cada escrita, uma nova paixão. Se o escritor não estiver absolutamente dedicado àquilo que se propôs a escrever e se não estiver apaixonado pela história e pelos personagens, o projeto tende ao fracasso. Costumo dizer que o escritor deve ser seu maior fã e seu maior crítico. Dito isso, quase impossível eleger uma escrita pela qual se sente maior apreço. Se tenho que escolher alguma de minha galeria como favorita, devo eleger A SAGA DE ESPLENDOR – A ANGÚSTIA DO CONSELHEIRO (ainda não publicada). Representa muito para mim por dois grandes motivos: foi a partir desta escrita que comecei a arriscar no mundo literário e a primeira história que escrevi e ainda desenvolvo; é um enredo que remete muito à minha infância, pois muitos dos argumentos foram desenvolvidos em minhas brincadeiras infantis.




Sinopse resumida 
A ANGÚSTIA DO CONSELHEIRO 

Um velho moribundo conhecido como Vito, o Vidente, agoniza seus instantes finais trancafiado em seus aposentos particulares em uma das torres da Sede da Ordem dos Segredos do Reino de Agat. Amargurado, o homem lamenta sua condição senil enquanto elabora uma série de profecias sobre um futuro nebuloso que aguarda todo o Reino. Giden, uma espécie de discípulo e ajudante de Vito, testemunha as últimas profecias do velho e recebe a importante incumbência de levar os fatos ao conhecimento de Mendel, Conselheiro Mor do Rei, evitando que as desgraças profetizadas se concretizem. 

TEREZA RECHE
Quais seus planos para 2016 em relação a sua vida literária?

RAPHAEL MIGUEL
Creio que um passo deva ser dado por vez. Sinceramente, gostaria de despejar todos meus projetos de uma vez, mas tenho a clareza de que não posso proceder desta forma. Com a publicação recente de meu primeiro livro solo, devo trabalhar com isso até poder dar o próximo passo. A divulgação de um autor iniciante não é fácil, e, se não houver uma correta exposição, seu trabalho pode passar despercebido, prejudicando até mesmo vindouras publicações. Dito isso e com base no contexto de meus atuais projetos, o melhor a fazer em 2016 é construir uma base sólida para avançar nos anos subsequentes. Pretendo trabalhar intensivamente com O LIVRO DO DESTINO, continuar a escrever mais histórias e prosseguir avançando. Tenho a convicção que este ano será um ano de solidificação e construção.



TEREZA RECHE 
Existe obrigatoriamente que se seguir critérios para a criação literária? Justifique-se. 

RAPHAEL MIGUEL
O único critério é manter a coerência. Nada arrasa mais com o crédito de um trabalho do que a falta de coerência entre os argumentos. De outro modo, não creio que haja obrigatoriedade de se seguir outros critérios. O autor deve ser responsável e manter um bom nível de auto-crítica ao ponto de ser livre para escrever da forma que melhor lhe convir. A própria história ditará seu ritmo e pedirá pelos critérios a serem utilizados no argumento. Contanto que mantenha coerência, o escritor deve ser livre para criar.  

TEREZA RECHE
Deixe sua mensagem aos leitores e colegas de profissão.

RAPHAEL MIGUEL
Devo agradecer a todos que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a chegar até aqui. O caminho pela frente não é fácil, mas não existe impossível quando firmamos em nossos sonhos e objetivos. O incentivo que recebo daqueles que já leram algum de meus trabalhos é o combustível para seguir na jornada, produzindo cada vez mais. Aos que ainda não conhecem, convido-os a conhecer minha escrita e pretendo manter uma relação sempre próxima ao público. Quanto aos meus colegas escritores, deixo minha mensagem simplificada com apenas uma palavra-chave: PERSEVERANÇA.


Caro Raphael Miguel, foi um prazer ter sua participação no Blog Por Tereza Reche.







                                                                      Escritora Tereza Reche