quarta-feira, 2 de março de 2016



- ANÁLISE SOBRE ESTILOS DE APEGO - Segundo John Bowlby 


                                   Quem é John Bowlby?

Este artigo abordará os tipos de Apego interpessoal segundo o pscicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, John Bowlby. John  nasceu em 1907, na Inglaterra e estudou Psicologia, Ciências Naturais e, depois, Medicina. Foi analisado por Joan Riviere, tornando-se membro titular da “British Psychoanalytical Society” (BPS). Melanie Klein supervisionou a sua primeira análise a crianças. Em 1940, publicou trabalhos sobre a criança, a sua mãe e o seu ambiente. Três noções básicas fazem parte de sua obra: o apego, a perda e a separação. Em 1948, dirigiu uma pesquisa sobre crianças abandonadas ou privadas de lar. Em 1951, publicou o seu relatório Maternal Care and Mental Health.

Depois de 1950, foi dando à sua obra um conteúdo cada vez mais biológico.

Abaixo o link para download do livro em PDF "A Teoria do Apego no Contexto da Produção Científica Contemporânea " da autora Adriana de Albuquerque Gomes Lígia Ebner Melquiori.  O livro possui 396páginas e se encontra aberto na internet. 




http://www.4shared.com/office/SGhMaykLce/APEGO_PDF.html


SOBRE A TEORIA DO APEGO


VÍDEOS EXPLICATIVOS SOBRE AS FORMAS PSICOLÓGICAS DO APEGO 
-Por Manoel Augusto Bissaco-

Quem é Manoel Augusto?



Terapia Holistica é um processo interativo, caracterizado por uma relação única entre Terapeuta e cliente, levando este ao autoconhecimento e a mudanças em várias áreas, sendo as mais comuns: comportamento, elaboração da realidade e/ou preocupações com a mesma, incremento na capacidade de ser bem-sucedido nas situações da vida (aumento máximo das oportunidades e minimização das condições adversas), além de conhecimento e habilidade para tomada de decisão. ​
Respeitando sempre o tempo, histórico de vida e a individualidade de cada cliente, e acreditamos que todo ser humano possui muitos recursos dentro de si para encontrar resoluções para seus problemas. O direcionamento é parte integrante do trabalho de todo verdadeiro Terapeuta, independentemente de quais outros métodos adote.
Manoel Augusto é hipnoterapeuta especializados em doenças psicossomáticas, cura e resolução de stress pós traumático e em técnicas motivacionais e vivenciais
Nós partimos da leitura que procura abordar as causas do problema e não tratar apenas conseqüências, o foco do trabalho é no cliente e não só no sintoma. A Psicoterapia Holística busca descobrir os fatores emocionais, mentais, energéticos e espirituais que criaram a condição para que uma doença ou conflito tenha se instalado.
Sendo assim a Psicoterapia Holística trata cada caso como único, para exemplificar pensemos em duas pessoas que possuem um mesmo problema de saúde, podemos dizer, sem medo de errar que na grande maioria das vezes, embora o problema seja semelhante os caminhos pelos quais o problema se instalou são muito diferentes.
A constituição de cada um dos envolvidos é única, temperamento, dinâmicas, histórico de vida e caráter individuais que necessitam de uma abordagem também individual, aliás o termo indivíduo significa exatamente algo não dividido, total.
Somos determinados pelo impulso de fazer você “SER”, não importa o que você já fez e sim o que você “É”.

Formação

• Hipsone Ericksoniana pelo ACT – Acredited Certified Training (Teaching Division – The Institute for Trauma Release Therapy and Global Institute for Trauma Resolution reconhecido pelo The American Board of Hipnotherapy);


• Técnico em Hipnose Clínica;


• Master Practitioner em programação neuro-linguística;


• Practitioner em EFT (Acupuntura Emocional sem Agulhas);


• Praticante de S.E (Somatic Experiencing);


• Auto regulação e estabilização através do trabalho somático nas atividades infantis;


• Healing Early Attachment Wounds (Curas de Traumas de Apego Precoce);


• Generative Trance (Transe Generativo);


• Neuro biological trauma resolution level I e II (resolução neurobiológica de trauma nivel I e II);
•Abordagens Hipnóticas Ericksoniana para traumas;
• Constelações familiares.


• Hipnose Ericksoniana, nível avançado em regressão e progressão de idade;


• Coerência cardíaca;


• Neuroplasticidade no tratamento de TEPT (transtorno de stress pós traumático);


• Focalização orientada ao trauma complexo;


• Psicologia pré e peri natal nivel I e II;


• Matrix Reimprint.

Manoel A. Bissaco foi treinado pessoalmente por:

• Stephen Gilligan (discípulo direto de Milton Erickson);
• Beth Erickson (filha de Milton Erickson);
• Stephen Paul Adler (autoridade mundial em Hipnose Ericksoniana, cura e/ou resolução de trauma e estresse pós traumático);
• Diane Polle Heller (criadora de Healing Early Attachment Wounds, Cura de Trauma de Apego Precoce).

VÍDEOS












TEORIA DO APEGO

No final de 1949, um jovem e imaginativo psiquiatra, de orientação analítica e recentemente apontado para ser o chefe de Seção da Saúde Mental da organização Mundial de Saúde, interveio. Requisitado para contribuir com as Nações Unidas com um estudo sobre as necessidades de crianças sem lar, Ronald Hargreaves decidiu escolher um consultor, por um certo período, para fazer um relatório sobre os aspectos da saúde mental concernentes a esse problema e sabendo de meu interesse nesse campo, me convidou para essa tarefa (Bowlby, 1990, p.34).


Assim começa a história de John Bowlby, um psiquiatra que, entre a década de cinqüenta e sessenta, investigou e elaborou a teoria que procura explicar como ocorre – e quais as implicações para a vida adulta - dos fortes vínculos afetivos entre o bebê humano e o provedor de segurança e conforto.
Bowlby recolheu relatos e fez observações da interação mãe – bebê. Os dados que recolheu indicavam para uma direção diferente daquela que a psicanálise e a teoria cognitiva da época apontavam:


Naquele tempo, era largamente aceito que a razão pela qual a criança desenvolve um forte laço com sua mãe é o fato de que esta a alimenta. Dois tipos de impulsos são postulados, primário e secundário. O alimento é tido como primário; a relação pessoal, referida como dependência, como secundário. Essa teoria não me parecia se adaptar aos fatos (Bowlby, 1990, p.37)


Em sua monografia para a Organização Mundial de Saúde – OMS, “Cuidados Maternos e Saúde Mental”, de 1951, Bowlby revê as provas relativas aos efeitos adversos da privação materna para o bebê e discute os meios de prevenir tais efeitos. Neste trabalho, fiz uma revisão sobre a evidência, então disponível, considerada de pouca importância, relativa às influências adversas, no desenvolvimento da personalidade, do cuidado materno inadequado, durante a primeira infância; chamei a atenção para o desconforto intenso das crianças pequenas, que se acham separadas daqueles que conhecem e amam e fiz recomendações quanto à melhor forma de evitar, ou pelo menos diminuir os efeitos maléficos a curto e a longo prazo (Bowlby, 1989, p.34).


Porém, ainda se fazia necessária à construção de bases teóricas e conceituais. O que estava faltando, como vários revisores apontaram, era alguma explicação de como as experiências incluídas sob o amplo título de privação materna poderiam ter efeitos no desenvolvimento da personalidade dos tipos mencionados. A razão para essa omissão era simples: os dados não estavam inseridos em nenhuma teoria até então corrente...(Bowlby, 1989, p.36).


O contato com a etologia, ciência que estava em seus primórdios pelas mãos de Konrad Lorenz, Harry F. Harlow e Robert Hinde, possibilitaram que Bowlby estruturasse a base teórica de seus trabalhos. Considerando que as publicações de Konrad Lorenz (1934) sobre “imprinting”1 poderiam ter algumas implicações relevantes para o estudo de desenvolvimento dos vínculos em seres humanos e partindo da base conceitual e metodológica da etologia, John Bowlby propôs, em 1958, que, assim como em outras espécies animais, os bebês humanos seriam programados para emitir certos comportamentos que eliciariam atenção e cuidados e manteriam a proximidade do cuidador. Bowlby estava descartando a idéia do impulso primário, que associa a alimentação à razão pela qual a criança desenvolve um forte laço com sua mãe e substituindo-a pelo sentimento de segurança, atribuindo a ele a noção de função biológica de proteção.

Um suporte de força para esse passo veio logo depois com a descoberta de Harlow de que, em outra espécie primata – macaco Rhesus – os jovens mostram preferência marcante por uma mãe-boneca macia, apesar de ela não os alimentar, ao invés de uma mãe-boneca dura (de arame) que os alimenta (Harlow e Zimmerman, 1959 apud Bowlby, 1989 p.38) A partir do conjunto da obra de Bowlby se pode estabelecer as definições de comportamento de apego e suas características. Assim, comportamento de apego é definido como:

Qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo, considerado mais apto para lidar com o mundo (Bowlby, 1989, p.38).


Os comportamentos de apego se referem a um conjunto de condutas inatas exibidas pelo bebê, que promove a manutenção ou o estabelecimento da proximidade com sua principal figura provedora de cuidados, a mãe, na maioria das vezes. O repertório comportamental do comportamento de apego inclui chorar, fazer contato visual, agarrarse, aconchegar-se e sorrir. (Bowlby, 1990) . O comportamento de apego será eliciado quando o bebê estiver assustado, cansado, com fome ou sob estresse, levando-o a emitir sinais que podem desencadear a aproximação e a motivação do cuidador.

O comportamento de apego traz segurança e o conforto e possibilita o desenvolvimento - a partir da principal figura de apego - do comportamento de exploração. Quando uma pessoa está apegada ela tem um sentimento especial de segurança e conforto na presença do outro e pode usar o outro como uma “base segura” a partir da qual explora o resto do mundo. Dentro de sua teoria, ainda, Bowlby enfatiza sete características (Bowlby, 1997)


1. Especificidade – O comportamento de apego é dirigido para um ou alguns indivíduos específicos, geralmente em ordem clara de preferência.

2. Duração – O apego persiste, geralmente, por grande parte do ciclo vital.

3. Envolvimento emocional – Muitas das emoções mais intensas surgem durante a formação, manutenção, rompimento e renovação de relações de apego.

4. Ontogenia – O comportamento de apego desenvolve-se durante os primeiros nove meses de idade de vida dos bebês humanos. Quanto mais experiências de interação social um bebê tiver com uma pessoa, maior são as probabilidades de que ele se apegue a essa pessoa. Por essa razão, torna-se a principal figura de apego de um bebê aquela pessoa que lhe dispensar a maior parte dos cuidados maternos. O comportamento de apego mantém-se ativado até o final do terceiro ano de vida; no desenvolvimento saudável, tornase, daí por diante, cada vez menos ativado.

5. Aprendizagem – Recompensas e punições desempenham apenas um papel secundário. De fato, o apego pode desenvolver-se apesar de repetidas punições por uma figura de apego.

6. Organização – O comportamento de apego é organizado segundo linhas bastante simples. Mediado por sistemas comportamentais cada vez mais complexos, os quais são organizados ciberneticamente. Esses sistemas são ativados por certas condições e terminados por outras. Entre as condições ativadoras estão o estranhamento, a fome, o cansaço e qualquer coisa assustadora. As condições terminais incluem a visão ou som da figura materna e a interação com ela. Quando o comportamento de apego é fortemente despertado, o término poderá requerer o contato físico ou o agarramento à figura materna e (ou) ser acariciado por ela.

7. Função biológica – O comportamento de apego ocorre nos jovens de quase todas as espécies de mamíferos e, em certas espécies, persiste durante toda a vida adulta. A manutenção da proximidade com um adulto preferido por um animal imaturo é a regra geral, o que sugere que tal comportamento possui valor de sobrevivência. Assim, a função do comportamento de apego é a proteção, principalmente contra predadores. Cabe ainda fazer a distinção entre comportamento de apego e apego.


Ao falar de uma criança que esteja apegada ou que tenha um apego a alguém, quero dizer que esta pessoa está fortemente disposta a procurar a proximidade e contato com esse alguém e a fazê-lo, principalmente, em certas condições específicas. A disposição de comportar-se dessa maneira é um atributo da pessoa apegada....O comportamento de apego, em contraste, se refere a qualquer das formas de comportamento, nas quais a pessoa se engaja, de tempos em tempos, para obter ou manter uma proximidade desejada. (Bowlby, 1989, p.40).


O TESTE DE SITUAÇÃO ESTRANHA

A partir da teoria de Bowlby, Ainsworth e Wittig (1969) elaboraram um procedimento laboratorial para qualificar o vínculo formado entre o bebê e sua principal figura de cuidado, denominado de “Teste de Situação Estranha”, o qual permitiu observar as manifestações comportamentais do apego e examinar o equilíbrio entre o apego e o comportamento exploratório, sob condições de alto e baixo estresse em crianças. Nestas condições, o comportamento é ativado como conseqüência da separação da figura cuidadora. Este trabalho trouxe importantes contribuições para a teoria do apego, ao demonstrar que o apego resultante da interação bebê - mãe, varia na dependência do tipo de cuidado materno e das características inerentes ao bebê.
As respostas dos bebês observadas neste teste possibilitaram a classificação do apego em quatro padrões:
Seguro - o bebê sinaliza a falta da mãe na separação, saúda ativamente a mãe na reunião, e então volta a brincar;
Inseguro - evitante - o bebê exibe pouco ou nenhuma aflição quando separada da mãe e evita ativamente e ignora a mãe na reunião;
Inseguro - resistente - o bebê sofre muito, tem muita aflição ou angustia pela separação e busca o contato na reunião, mas não pode ser acalmado pela mãe e pode exibir forte resistência;
Inseguro - desorganizado – apresenta comportamento misto, ora como evitante, ora como resistente.


 Comportamento parental
A contraparte do comportamento de apego é o comportamento parental.
A teoria do apego propõe o sistema do cuidador como um sistema normativo e provedor de segurança. Cuidar é definido como um ampla ordem de comportamentos complementares ao comportamento de apego e inclui um larga gama de responsabilidades, tais como prover ajuda ou auxílio, conforto e confiança, provendo uma base segura, e encorajando autonomia do bebê (Bowlby, 1990).


O cuidador deve ser capaz de responder de forma flexível a uma ampla margem de necessidades que surgirem, deve ter conhecimento adequado de como prover cuidado apropriado e estar disponível quando necessário. Precisa ter recursos emocionais e materiais: habilidade de empatizar e se colocar no lugar do indivíduo em sofrimento. Finalmente, precisa ser motivado a oferecer cuidado. (Feeney e Collins, 2001) O papel do cuidador freqüentemente envolve uma boa porção de responsabilidade, assim como uma quantidade substancial de recursos cognitivos, emocionais, e materiais. Deve, portanto, estar motivado a aceitar a responsabilidade (que freqüentemente envolve algum grau de sacrifício) e dispor de tempo e esforço necessários para prover apoio efetivo. Se o cuidador não estiver suficientemente motivado, pode não desempenhar seu papel adequadamente (Feeney e Collins, 2001).


Não há dúvida que o conjunto formado pelo comportamento materno–filial tenha sido alvo de pressão seletiva nos organismos em geral, constituindo-se desse modo em um sistema comportamental instintivo (Bussab, 1998, p.27). Para garantir o cuidado parental, o processo evolutivo muniu o filhote com características físicas e comportamentais que eliciam a vinculação e a motivação por cuidar. No caso do ser humano, o contato visual e tátil com o bebê favorecem a formação do vínculo afetivo e desencadeia o comportamento de cuidar, tão importante para a sobrevivência do bebê.


Na evolução hominídea, em contraste com os demais primatas, ocorreu uma intensificação dos cuidados parentais, com aumento dos já intensos cuidados maternos típicos de primatas e também com introdução de cuidados paternos, raros entre os grandes antropóides... O bebê humano, mesmo a termo, nasce prematuro para o padrão dos primatas... Essa prematuridade tem sido explicada como adaptação ao dilema obstétrico... O andar ereto obrigava um certo fechamento da abertura pélvica, enquanto o crescimento cerebral exigia um aumento da abertura pélvica. O nascimento prematuro parece ter sido uma solução para este problema obstétrico. Por sua vez, o nascimento prematuro aumentou ainda mais a dependência do recém-nascido. Pode-se constatar que durante a evolução humana, cuidados parentais foram intensificados, assim como a vinculação efetiva recíproca, como resultado das pressões seletivas geradas pelo envolvimento crescente de um modo de vida cultural (Bussab, 1998, p.20-21).


De acordo com Bee (1984), pode-se acrescentar que: na presença de um bebê pequeno, a maioria dos adultos automaticamente apresentará um padrão inconfundível de comportamentos interativos, incluindo sorrir, levantar as sobrancelhas e abrir muito os olhos (p.315). Lorenz (1993) propõe que os traços juvenis desencadeiam o que ele denomina de mecanismos liberadores inatos (MLI) de afeto e cuidado em humanos adultos. Assim os comportamentos associados a provisão de cuidados não se restringiriam aos bebês humanos, mas também a todos aqueles que fossem identificados como necessitando de proteção. Humanos exibem emoções e padrões comportamentais de cuidado parental diante de várias configurações de estímulo-chave....o fato de sentirmos ternura mesmo por animais adultos, ...também parece ser efeito de um MLI (Lorenz, 1993, p.220).


Assim, característica humana de se vincular, ser sensível e responder a estímulos advindos do bebê pode ser aplicada na compreensão do vínculo com o cão. “Quando vemos uma criatura viva com característica de bebê, somos acometidos por um surto automático de ternura desarmante....respondemos a um conjunto de traços específicos que atuam como liberadores”(Gould, 1989, p. 207-210). O processo de domesticação e a neotenia acentuaram nos cães características físicas e comportamentais similares as do bebê humano, ou seja, ao longo do processo de evolução, o cão estendeu o processo de formação de vínculo afetivo (apego) e incluiu os seres humanos, evoluindo para apresentar características físicas e comportamentais que eliciassem o comportamento parental (provedor de cuidados) no ser humano, bem como sua adoção em um período determinado que favorece sua vinculação ao mesmo.


Bibliografias usadas para este artigo: 

Bowlby J. As origens do apego. In: Uma base segura: aplicações clinicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas; 1989. p. 33-47.

Bowlby J. Apego. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes; 1990.

Bowlby J. Formação e rompimento de vínculos afetivos. In: Formação e rompimento de laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes; 1997. p. 167-208.

Bussab V. O Comportamento Materno. In: Costa, M. P. C., V.U., editor. Comportamento Materno em Mamíferos.Bases teóricas e aplicações aos ruminantes domésticos. Jaboticabal: SBEt; 1998.

Gould S. O polegar do panda: reflexões sobre história natural. São Paulo: Martins Fontes; 1989.

Feeney B. C. e Collins N. L. Predictors of Caregiving in Adult Intimate Relationships: An Attachment Theoretical Perspective. Journal of Personality and Social Psychology 2001; 80(6): 972-994.

Harlow H. F. e Zimmerman R. R. Affectional responses in the infant monkey. Science 1959; 130: 421.

Lorenz K. Os fundamentos da etologia. São Paulo: UNESP; 1993.


LEANDRO KARNAL






- ENTREVISTA DO SITE SETOR VIP - 
   LEANDRO KARNAL 

Leandro Karnal é historiador e filósofo, um dos maiores e mais admirados em minha opinião. Segue abaixo uma entrevista desta grande personalidade ao site Setor Vip. Eloquente. Elegante. Exímio. Um dos intelectuais mais respeitados do Brasil, Leandro Karnalacaba de lançar o livro “Pecar e Perdoar – Deus e o Homem na História”. Quem o acompanha nas edições do Café Filosófico encontra no livro a mesma exuberância de sua oratória. Ouve-se sua voz. Ele faz arte ao falar em público e conduz na trajetória do raciocínio o homem comum que se questiona. Nascido em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Karnal atua como professor na UNICAMP, especialista em História da América, assunto sobre o qual discorreu no livro “Estados Unidos: a Formação da Nação”. O historiador ainda assina os títulos “Conversas com um Jovem Professor” e “História na Sala de Aula”. Neste novo livro, Karnal apresenta aforismos interessantíssimos sobre vícios e virtudes, assumindo o papel delicioso – maneira a la Tolstoi – de provocar os dois grandes personagens da história do mundo: Deus e o diabo. Seus argumentos colocam os dois no tribunal e deixam para o leitor o veredito. Do lado do diabo: “A história dos corações humanos mostrou que Lúcifer era o verdadeiro visionário. Lúcifer é o “pai da mentira”, mas, convenhamos meu devoto leitor, isso pode ser propaganda da concorrência.”Ou como advogado de Deus: “A maior injustiça que Deus sofre no mundo contemporâneo é esta: ficar congelado no passado e ser acusado de não responder mais à angústia do adulto.”Voltando para o homem, o intelectual provoca: “O ponto de virtude onde me coloco é a tranquilidade do fariseu que cumpriu o jejum correto e segue a norma do descanso do sábado, pagou o dízimo das mínimas coisas e só se esqueceu de um detalhe: amar. O furor de quem julga e legisla é o medo de ser igual.” Com o Setor VIP, Leandro Karnal dialoga sobre algumas questões efervescentes de nossa humanidade. Imperdível!


ENTREVISTA

Setor VIP
É mais difícil conviver com o transgressor ou com o hipócrita?

LEANDRO KARNAL
Sempre depende de quão transgressor ou hipócrita somos. Prefiro o ataque direto ao veneno destilado, o inimigo aberto ao velado, mas isto é subjetivo. O transgressor é uma espécie de herói romântico. O hipócrita é uma personagem política. Mas o hipócrita só existe porque parte de mim deseja o elogio e odeia a verdade crítica. O transgressor é meu oposto, mas o hipócrita é meu filho.

Setor VIP 
Somos muito melhor fingindo ser politicamente corretos do que buscando ser verdadeiramente politicamente corretos?

LEANDRO KARNAL
Ser politicamente correto é desejar não machucar, não agredir e levar em conta a diversidade. Hoje é obrigatório ser politicamente correto. Então, ficamos mais estratégicos do que convencidos. Julgar e afastar e ser politicamente correto por obrigação é dizer que tenho, além de preconceito, medo.

Setor VIP
Uma mulher pode ser sinceramente devota a Deus e viver o sexo em toda a sua plenitude e profundidade?

LEANDRO KARNAL
Obviamente que sim, mas cada época leu a sexualidade feminina de um jeito. O principal problema é que as normas sobre sexo e virtude das mulheres são feitas por homens, legisladores e juízes, e padres, solteiros e homens. Logo, o problema principal não é saber do sexo ou dos seus limites e glórias, mas saber das mulheres.

Setor VIP
Porque a beleza é tão temida?

LEANDRO KARNAL
A beleza é, para Rilke, o grau do terrível que desdenha nos destruir. Assim, é o caráter sedutor, libertador e aterrador da beleza que nos destrói.


Setor VIP
Qual é a luta mais inglória das feministas?

LEANDRO KARNAL
Há muitos tipos de feministas e em muitas fases. De Flora Tristán a Simone de Beauvoir e as atuais. O feminismo é filho do seu tempo e sua consciência é a consciência possível. Já foi queimar sutiã, já foi imitar aos homens. O desafio feminista sempre é reinventar-se e corresponder à verdade de cada momento.

Setor VIP
Por que o diabo tem mais “autonomia e força” no Cristianismo do que no Judaísmo? Evidenciá-lo em algum momento da história foi uma decisão para manter o poder estabelecido através do medo?

LEANDRO KARNAL
Medo é um elemento importante em todo sistema de controle: escola, religião, Estado… O monoteísmo absoluto do Judaísmo transforma o demônio em auxiliar de Deus, como no livro de Jó. Os judeus acreditavam em espíritos imundos que tomavam as pessoas, mas não deram ao demônio a autonomia de um reino. O Catolicismo incorpora mais crenças rurais e pagãs. A partir do final da Idade Média e inicio da Moderna, o demônio cresce muito no Catolicismo, especialmente na Contrarreforma. É uma estratégia de controle e uma herança do maniqueísmo. O demônio é citado muito mais do catecismo de Trento do que Deus. Mas é geral o sentimento: os códigos falam mais do crime do que das pessoas virtuosas. Como diminuiu hoje a culpa na sociedade ocidental, o demônio perde força, porque Deus sempre me entende e é sempre meu amigo e sempre me perdoa. Deus foi customizado e uma figura punitiva como o demônio vive declínio no Catolicismo, mas ainda é bastante explorado nas religiões pentecostais e neopentecostais. O demônio sempre depende de vontade de controle social e de capacidade de se sentir culpado.


Setor VIP
Devemos ao diabo algum tipo de evolução?

LEANDRO KARNAL
O demônio é uma criação como Deus. Ele mostra como pensamos os sistemas sociais. Para o historiador, não existe evolução, existe apenas transformação. Não estamos melhores ou piores do que no Egito antigo ou na Idade Média. Lúcifer, por exemplo, é um líder rebelde no “Paraíso Perdido” de Milton e é um romântico simpático na obra de Blake. Lúcifer é um espelho do humano e da sua rebeldia permanente.

Setor VIP
O homem moderno não gosta da ideia de se parecer com Deus?

LEANDRO KARNAL
Na verdade, o trecho é uma crítica a um motivo corrente para se abandonar Deus: o deus infantil. Vale o mesmo para o casamento. Os casais separam, por vezes, por não saberem adaptar sua relação a novas situações, reinventar-se. Se Deus era o Papai do Céu, ele estava ao lado de Papai Noel. Este Deus deve morrer para que um deus mais adulto cresça. Este é um mau motivo para matar Deus.


Setor VIP
Madonna chocou nos anos 1980 quando mostrou os seios, o corpo nu no polêmico livro SEX (1993), entre outras cenas sempre ligadas ao sexo, mas ela era jovem. Hoje, aos 56 anos, ela fez uma foto de topless (ensaio para a revista Interview) e o que as pessoas mais comentaram é que era um absurdo porque ela não tem mais idade para isso. Aceitamos mais a luxúria quando ela está aliada à juventude? Envelhecer se tornou um problema moral?

LEANDRO KARNAL
Luxúria está associada a prazer. O prazer, hoje, pós século XIX, é permitido mais facilmente aos jovens. Faz parte da nossa ambiguidade. Somos uma sociedade onde os jovens cresceram muito e ser velho deixou de ser uma referência de sabedoria e passou a ser defeito. Senhoras de 70 anos usam saias curtas e biquíni, algo que não ocorria antes. Em parte, isto é herança do pensamento religioso: sexo é permitido ou tolerado se houver chance de reprodução. Por isto, sexualidade pós menopausa ou homoerótica são temas cheios de tabu, pois evidenciam o prazer pelo prazer, não pela reprodução. Também devemos lembrar que é muito custoso reprimir-se. Assim, quem não se reprime nos irrita, pois faz o que desejaríamos. Por fim, tem a questão da misoginia: permitimos ao homem mais velho coisas que não são permitidas às mulheres. É nossa tradição preconceituosa mais sólida. Uma mulher rica, talentosa, senhora de si, com namorados 30 anos mais jovens é um desafio enorme ao status quo falocêntrico de nosso mundo. Madonna usa homens para seu prazer e isto é atributo só permitido aos homens, que sempre usaram mulheres. O grau da reação a isto só traz à tona o grau da insatisfação sexual do leitor médio. Sem-vergonha é aquela ou aquela que faz tudo que minha vergonha não permite fazer.

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