segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



- ENTREVISTA COM AUTORES - 

POR TEREZA RECHE


Max Wagner Targa


A primeira entrevista dessa coluna, será com o escritor Max Wagner. O escritor de 40 anos, nasceu em Ribeirão Preto/SP, passou parte da infância e adolescência em fazendas no interior de Goiás. É casado e pai de três filhos. É escritor, historiador e blogueiro. Suas grandes paixões são: História, Literatura e Cinema. Há vinte anos pesquisa sobre as duas guerras mundiais. A Última Poesia é o seu primeiro livro, um romance histórico sobre a Primeira Guerra Mundial, publicado pela Chiado Editora, que será distribuído no Brasil e Portugal. É a primeira vez que um romance sobre a Grande Guerra é publicado por um brasileiro.

                                         
                                        Entrevista

TEREZA RECHE
Como e quando o sr(a) iniciou sua carreira, e o que o levou a isso?

MAX WAGNER
Comecei escrevendo poesias em 1988, aos 12 anos de idade. O que me levou à escrita foi o dom, eu nasci com isso, foi um presente de Deus. Entretanto, algo fez despertar esse talento. Até os meus dezoito anos eu fui uma criança muito tímida e solitária, vivia apenas para os estudos. Durante anos fui um dos melhores alunos do colégio, mas por causa do meu isolamento e dedicação aos estudos, alguns rapazes da escola me fizeram sofrer Bullying. Então comecei a refugiar-me nos poemas, criando um mundo só meu.

TEREZA RECHE
Cite suas obras e onde encontrá-las por gentileza.

MAX WAGNER
Eu escrevi uma saga sobre as duas guerras mundiais que foi dividida em 10 volumes. Do Orgulho Nasce a Guerra é o primeiro livro e foi publicado pela Chiado Editora. O romance pode ser encontrado em formato impresso no site da livraria Chiado de Portugal, está sendo distribuído em algumas livrarias em terras lusitanas: Fnac, Bertrand Livreiros, Wook, El Corte Inglês e Note.
Em breve chegará ao Brasil nas livrarias: Saraiva, Cultura, Fnac, Livraria da Travessa, Livraria Galileu, Easy Books, Só Livros e também pode ser adquirido comigo e autografado, pelo e-mail maxwagner.aultimapoesia@gmail.com. O formato digital foi disponibilizado na Amazon, Saraiva, Kobo, Cultura, Apple, Google Books e Revolução do Ebook.

TEREZA RECHE
Você acha que a figura do “leitor” continua em segundo plano nas reflexões literárias? 

MAX WAGNER
Jamais, o escritor não existe sem o leitor, acredito que é uma troca, ambos aprendem juntos, eu aprendi mais com meus leitores do que comigo mesmo. Não existe mais aquele conceito do professor ou do escritor apenas transmitindo conhecimento, deve ser recíproco. Acima de tudo o escritor deve saber o que significa humildade.


TEREZA RECHE
A Literatura há alguns anos, vem tomando novo corpo, a tecnologia propiciou isso. Publicações virtuais, facilidade em se auto publicar, dentre outras vias. Ao seu ver, como escritor da atualidade, esse cenário é de fato benéfico à Literatura, ou precisamos rever nossos conceitos?

MAX WAGNER
Muito benéfico, os livros virtuais surgiram como uma plataforma a mais de divulgação. Não acredito que o livro impresso será extinto, alguns preferem sentir o papel, outros não se importam em ler através de aparelhos portáteis. Eu particularmente leio nos dois formatos, minha biblioteca possui 10% de livros impressos e 90% de livros virtuais, por causa do baixo custo.

Quanto à avalanche de livros impressos hoje, em parte por causa da auto publicação. Vejo um ponto positivo e outro negativo. Primeiro, a oportunidade de auto se publicar é maravilhosa, eu comecei assim até ser descoberto por uma editora, sem contar que o número de publicações incentiva as pessoas a lerem mais. Em contrapartida os leitores devem ser seletivos, está cheio de obras mal escritas por aí, os erros gramaticais são grandes.

Hoje todos querem ser escritores. A pessoa precisa ter dom para escrever, e com o tempo vai estudando e aperfeiçoando sua escrita. O número de obras publicadas gerou uma enorme concorrência no mundo literário. Antigamente quando alguém resolvia se tornar escritor era bem recebido. Hoje você tem que ser muito bom para conquistar leitores, o esforço é maior, o que também não deixa de ser um benefício para o escritor. Mas Que a coisa está mais concorrida, ah isso está. 

TEREZA RECHE
Qual o papel do escritor, em relação a disseminação e consequente transformação mental, intelectual e filosófica dos leitores como sociedade? 

MAX WAGNER
É enorme, toda manifestação artística influencia e transforma a sua época. A grande obra “Germinal“ de Émile Zola revolucionou o seu tempo iniciando o Movimento Naturalista. Karl Marx é outro exemplo com o “Manifesto Comunista“ atingiu o mundo inteiro com as lutas de classes.

TEREZA RECHE
Qual a sua leitura de ficção brasileira hoje? É possível traçar vertentes e características?

MAX WAGNER
Romance histórico, o maior escritor brasileiro hoje é a Mary Del Priore, há pouco tempo ela publicou um romance histórico “Beije-me onde o sol não alcança”. Eu também gosto dos romances históricos do Augusto Cury. 

Recentemente aconteceu algo inusitado, por acaso eu li a obra “Ditadura de Corações“ da Revolução de 1932, foi admiração instantânea. Eu sempre desejei que publicassem um romance sobre o tema. No passado até pensei em escrever sobre a história. Acabei tornando-me amigo da autora (Tereza Reche), tenho lido tudo que ela escreve, eu ainda tive o prazer de ser entrevistado por ela neste artigo. O que ela transborda através da escrita é maravilhoso. Pelas palavras você conhece a alma das pessoas, e a alma da Tereza é linda. Conhecer o talento dela foi uma grande descoberta.


TEREZA RECHE
Primeiramente devo agradecer imensamente seu gentil e honroso comentário. Me sinto lisonjeada, ainda mais sendo esse um comentário advindo de um grande profissional com você! 

Escrita ou Vendas? Partindo do seu ponto de vista, qual desses substantivos femininos melhor se encaixaria no cenário literário atual? E por que?

MAX WAGNER
Com certeza escrita, eu escrevo por paixão, não por dinheiro e fama. Entretanto, anseio por sucesso, e para mim sucesso é sinônimo de reconhecimento dos meus leitores. Mas mesmo que eu não tiver sucesso na minha carreira literária, eu continuarei escrevendo, escrever é uma necessidade, é o ar que eu respiro. A razão e a realidade são muito duras para você viver sem sonhos, escrever é sonhar...

TEREZA RECHE
Qual escritor admira? E qual escrita aguça sua curiosidade literária?

MAX WAGNER
O meu grande mestre literário foi Victor Hugo, que escreveu “Os Miseráveis“ para mim o maior romance já escrito. Gosto também do Hemingway, que mistura poesia com jornalismo, por isso seus livros fizeram tanto sucesso, a coesão e a coerência de seus romances são maravilhosos.

A escrita que aguça minha curiosidade é o romance histórico, ele me permite viajar por outras épocas como se estivesse numa máquina do tempo. O romance histórico procura trazer o que a humanidade viveu. Os seus grandes expoentes hoje são; Bernard Cornwell, Max Gallo, Jeff Shaara e Ken Follett.

TEREZA RECHE
Como você avaliaria a literatura que se encontra no ranking dos melhores e mais vendidos?

MAX WAGNER
Péssima, sei que muitos leitores não irão concordar comigo, mas eu devo ser sincero, os últimos livros mais vendidos que acompanhei foi Grey e Um Heróis e Dois Mundos. Não estou desmerecendo as obras, não são tão ruins, mas colocá-las como as mais vendidas é demais. Um Herói e Dois Mundos até comprei para o meu filho, a história de um jogador de Minecraft que vai parar no mundo virtual dos vídeos games. Primeiro ele só passou a ideia para o papel, foi um ghost-writer que escreveu, onde está a criatividade? Cadê o talento literário? Literatura é arte.

Grey conta a trajetória de um homem que irá usar sua secretária como se fosse um mero objeto dos seus caprichos e desejos, eu sei que uma pitada de sensualidade é bom, mas deve existir um pouco de paixão ou romance. O pior é que muitas brasileiras amaram o livro. Ou eu estou vivendo em outra época ou não sei mais o que dizer. Um casal deve se entregar a sensualidade, mas mulher merece ser tratada com amor e paixão e não como lixo. Infelizmente o romantismo caiu em desuso, ainda bem que temos um Nicholas Sparks, para nos mostrar que o amor verdadeiro ainda é possível.


TEREZA RECHE
Existe obrigatoriamente que se seguir critérios para a criação literária? Justifique-se. 

MAX WAGNER
Em primeiro lugar a pessoa precisa ter talento para escrever, em segundo lugar humildade em ouvir escritores experientes, claro descartando conselhos pessimistas, retira o que é bom e útil desses conselhos. Mas só talento não é o suficiente, todo escritor deve aperfeiçoar-se, estudar o máximo que puder, unindo o útil ao agradável.

Alguns critérios são importantes, evitar o queísmo ( excessos de que no texto, isso empobrece qualquer leitura). Ler muito para enriquecer o seu texto evitando palavras repetitivas, estudar bastante gramática, escrever com frequência para exercitar. Uma frase literária deve conter no máximo três linhas, e cada parágrafo deve ter no máximo dez linhas, formando três frases num único parágrafo.

Contudo escrever é uma coisa muito pessoal, cada escritor vai desenvolver suas técnicas de escrita, talvez o que funcione com um não vai funcionar com outro. Uma coisa inadmissível é a falta de conhecimento de gramática.

TEREZA RECHE
Que problemática você destacaria na prática da difusão cultural no país? Como poderíamos resolver, senão amenizar tal situação?

MAX WAGNER
Falta de interesse. Embora defenda a ideia contrária, o governo brasileiro não quer cidadãos cultos, pessoas intelectuais não são fáceis de manobrar, elas pensam por si próprias, não são influenciadas, elas possuem ideais invencíveis. O que eu tenho acompanhado pelo país, principalmente por causa da crise, o primeiro lugar que eles cortam é na cultura; museus, bibliotecas fechando por toda parte.

A grande desculpa é que precisam investir na alimentação que é o principal, só que pessoas sem cultura e educação tendem a ter os piores salários, gerando miséria e diferenças sociais. Embora o governo defenda a democracia ele não quer ninguém pensando diferente deles. Como difusores da cultura, devemos continuar fazendo a nossa parte, compartilhando sentimentos através da arte. Se uma única pessoa for alcançada já terá valido a pena, já pensou se cada artista conseguisse conquistar apenas uma pessoa através da cultura, já terá sido suficiente. 

TEREZA RECHE
Como profissional literata, ao criar um novo livro, você exerce a escrita racional ou permite que a inspiração flua de maneira livre?

MAX WAGNER
Na verdade é um casamento. Sem inspiração eu jamais conseguiria escrever, é através dela que os sentimentos são colocados para fora, é o coração de qualquer livro, é isso que o leitor deseja. Entretanto um coração não funciona sem a mente, principalmente no romance histórico que busca a verossimilhança, sem técnica não funciona. 


TEREZA RECHE
O que você, na pele de leitor, jamais leria?

MAX WAGNER
Gosto é uma coisa que não se discute, o que para mim não serve, para outro é o máximo, nenhuma obra deve ser desmerecida. Eu particularmente não leio obras que fazem apologia ao racismo, distinção social, qualquer tipo de discriminação, a única exceção foi “Mein Kampf “ de Adolf Hitler. Eu fui obrigado a ler para entrar na mente do ditador e preparar os meus romances sobre as grandes guerras mundiais.

TEREZA RECHE
Escritor incondicionalmente o sendo por amor. Existe?

MAX WAGNER
Se não for por amor, por paixão não tem graça. Dinheiro é necessário, mas viver de literatura no Brasil é quase impossível. Se algum dia eu ganhar dinheiro com as minhas obras vai ser agradável, mas se eu não ganhar continuarei sendo escritor do mesmo jeito. Se Àqueles que um dia escreveram e desistiram, tivessem insistido, o mundo seria bem mais rico culturalmente.

TEREZA RECHE
Por que na sua opinião, certos gêneros, por mais interessantes que pareçam ser, não vendem no mercado atual literário?

MAX WAGNER
Essa é uma pergunta bem complicada. Eu escrevo romances históricos, não é um seguimento muito procurado no Brasil, com exceção do escritor britânico Bernard Cornwell que é um sucesso de vendas. Essa questão de gêneros que vendem ou não é muito complexa, eu acho que cada tempo vive o seu apogeu. No passado tivemos os grandes movimentos (Trovadorismo, Arcadismo, Barroco, Lirismo, Romantismo, Simbolismo, Realismo, Parnasianismo, Naturalismo e Modernismo) que foram bem aceitos em suas respectivas épocas.

Hoje Acredita-se que não exista um movimento que venda mais, eu discordo. Os livros sobre assuntos fantásticos são os mais vendidos, há alguns anos vimos uma explosão de vendas do Paulo Coelho e da Anne Rice que optaram por esse estilo, depois a J.K. Rowling, o Tolkien e tantos outros que fazem sucesso até hoje. O que não é bem aceito hoje poderá ser daqui há 20 ou 30 anos, é muito relativo, nenhum gênero de ser desmerecido.



TEREZA RECHE
Cultura e Intelectualidade caminham de mãos dadas, entretanto não são homogêneas... Afinal, a sociedade está mais intelectualizada ou apenas mais “antenada”?

MAX WAGNER
É uma questão bem complexa. Com o advento da internet o mundo virou outro. A sociedade está mais intelectualizada? Com certeza, a internet produziu muito mais conhecimento e um fácil acesso as informações, entretanto o intelecto atingiu apenas uma parcela da sociedade. Sabe por que isso aconteceu, por que a maioria das pessoas ainda não conseguiu separar aquilo que é relevante daquilo que não é.

Hoje o conhecimento deve ser filtrado, nem tudo que está na internet presta ou é verdadeiro. Quem busca conhecimento deve tomar muito cuidado com isso, por que em vez de se formar uma sociedade intelectualizada pode acabar se formando uma massa de pessoas com conhecimento de baixíssima qualidade. Eu acho que a sociedade está mais antenada do que intelectualizada, isso pode ser comprovado nos bates papos das redes sociais, os textos são muito mal escritos. Eu sei que um papo na net é uma linguagem coloquial, mas nem por isso devemos negligenciar totalmente a língua portuguesa.

TEREZA RECHE
Em que está trabalhando atualmente (livros)?

MAX WAGNER
Estou trabalhando em Silêncio das Armas, o segundo volume da saga “A Última Poesia“ e também em um livro de História, BrasilFront – Os Brasileiros na Primeira Guerra Mundial, para homenagear o centenário da entrada do Brasil na Grande Guerra.

TEREZA RECHE
De suas obras, qual sente maior apreço e qual sua sinopse resumida?

MAX WAGNER
Bom, eu escrevi uma saga sobre as duas guerras mundiais que foi dividida em 10 volumes. O primeiro “Do Orgulho Nasce a Guerra “ saiu em 2016, pela Chiado Editora, mas ele não é o meu preferido, o que eu mais gosto é o volume 4 “O Poeta e a Bailarina“ que será publicado até 2020. É amor demais em um único livro, nunca conheci um casal que se amasse tanto. 

Richard e Priscilla (o poeta e a bailarina) são dois irmãos que são separados quando eram crianças, mas depois de muitos anos acabam se encontrando e se apaixonam loucamente. Suas vidas se transformam num enorme tormento por que não podem viver o seu amor. Enquanto isso o mundo mergulha na maior guerra que já existiu.


TEREZA RECHE
Deixe sua mensagem aos leitores e colegas de profissão. 

MAX WAGNER
Aos leitores: continuem lendo bastante, principalmente obras que vão lhes trazer algum ensinamento; seja moral, intelectual ou sentimental. A leitura te leva para outros espaços, vivendo aventuras que lhe darão forças para enfrentar a realidade. E é claro leiam os meus livros... (Risos)... E aos colegas eu digo; nunca desistam, eu comecei a escrever há vinte oito anos, só Deus pode avaliar as dificuldades e humilhações que eu passei para que continuasse escrevendo. Tenham fé, mesmo que ninguém mais acredite no seu trabalho. Só hoje o meu trabalho está começando a ser reconhecido, já pensou se eu tivesse desistido lá atrás, e acima de tudo escrevam por amor, por paixão. Às vezes escrever e publicar parece um sonho impossível, uma espécie de utopia, mas não se entreguem. Continuem regando os sonhos, que com o tempo eles se tornarão realidade. O que faz as coisas acontecerem é acreditar, e fé não é o que olhos veem, é a certeza das coisas que se buscam...

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