domingo, 6 de setembro de 2015



A MULHER QUE NÃO PRESTAVA





Ela, a mulher que não prestava, costumava ser cruel... Era o tipo de mulher que mexia com os sentidos deles, os homens... Mas estes não mexiam com os dela. Não mais. Ela era o tipo de mulher que falava com os olhos, mas calava-se definitivamente, e se algo dizia, não, não era verdade. Ela não prestava. Fumava, dançava nua e não tinha pudor no que fazia... Ela não se gostava. Mas era feito o sabor de algo bom, que quando degustado costumava entorpecer. Eles a amavam... Mas ela não amava a ninguém. Houve dias em que amou, mas já não mais era problema para ela... Ela agora era a mulher que não prestava para isso. Andava distante de todos, e os tinha sempre ali, rodeando quando precisasse, e se precisasse... Ela os levava para onde e quando desejasse. Eles achavam tê-la, mas ela os tinha a todos, ninguém a teria. Era como um suave veneno doce, um sabor viciante que quando sorvido jamais esquecido seria. Sua beleza era irritante, camuflada em uma tristeza que não existia... Em problemas que ela criava para fazer-se dominável, coisa que jamais fora e jamais seria. Queimava não ter o que desejava de imediato, se cansava do que em suas mãos sempre tinha. Ela era deliciosamente necessária aos olhos distantes, às peles ardentes do sonho dos homens, de mulheres que à ela desejavam. Sentir a dor alheia lhe causava prazer, um prazer tão fácil de ir e vir. Tudo nela era fácil demais, isso, vez e outra perdia a graça. Procurava algo difícil de ter de sentir, de pertencer. E ela, a mulher que não prestava, sofria por não encontrar... Fumava cada desejo embutido, e ao realiza-lo, o dispensava como a névoa que da sua boca seca agora desfazia. O som que cada paixão lhe arrancava era razoavelmente bom, mas tão passageiro quanto os desejos que tinha. O mistério do seu silêncio, o jogo que sempre fazia, confundindo, magoando, rindo-se de todos os que pensavam fazê-la de tola, era sutilmente tragado pelo seu respirar sempre. Sua frieza era mística e portava beleza inatingível, mesmo sendo esta, dolorosa quando se achavam tê-la derretido por inteira, não, não a tinham... Nada a faria cessar, estagnar a rotina de simplesmente dispensar... Dispensar... Dispensar. Até algo parecer de fato desejoso, e ela, a mulher que não prestava; que se desnudava facilmente e que fumava ardentemente a cada paixão que achava laça-la, temer o pior...!Não, não permitiria, fugiria, mentiria até o fim, a si mesmo se necessário fosse, pois, amar não poderia! E ela, a mulher que não prestava, escolheu renegar o fantasma que a perseguia, aquele que a acorrentaria num submundo tenebroso de sossego e dor. Um fantasma chamado Amor. Ninguém a entenderia de fato, ela já havia desistido... Apenas precisava ser exatamente assim, ser engolida por todos os desejos do mundo que a ela buscavam, e quem sabe assim,ver-se livre do fantasma da dor. Ela era aquela que a nenhum prestava, nem aos que a odiavam menos ainda aos que a amavam. Deseja saber se ela importava? Não. Ela simplesmente era a mulher que não prestava...


Escritora Tereza Reche

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