A MULHER QUE NÃO PRESTAVA
Ela, a mulher que não prestava, costumava ser cruel...
Era o tipo de mulher que mexia com os sentidos deles, os homens... Mas estes
não mexiam com os dela. Não mais. Ela era o tipo de mulher que falava com os
olhos, mas calava-se definitivamente, e se algo dizia, não, não era verdade.
Ela não prestava. Fumava, dançava nua e não tinha pudor no que fazia... Ela não
se gostava. Mas era feito o sabor de algo bom, que quando degustado costumava
entorpecer. Eles a amavam... Mas ela não amava a ninguém. Houve dias em que
amou, mas já não mais era problema para ela... Ela agora era a mulher que não
prestava para isso. Andava distante de todos, e os tinha sempre ali, rodeando
quando precisasse, e se precisasse... Ela os levava para onde e quando
desejasse. Eles achavam tê-la, mas ela os tinha a todos, ninguém a teria. Era
como um suave veneno doce, um sabor viciante que quando sorvido jamais
esquecido seria. Sua beleza era irritante, camuflada em uma tristeza que não
existia... Em problemas que ela criava para fazer-se dominável, coisa que
jamais fora e jamais seria. Queimava não ter o que desejava de imediato, se
cansava do que em suas mãos sempre tinha. Ela era deliciosamente necessária aos
olhos distantes, às peles ardentes do sonho dos homens, de mulheres que à ela desejavam.
Sentir a dor alheia lhe causava prazer, um prazer tão fácil de ir e vir. Tudo
nela era fácil demais, isso, vez e outra perdia a graça. Procurava algo difícil
de ter de sentir, de pertencer. E ela, a mulher que não prestava, sofria por
não encontrar... Fumava cada desejo embutido, e ao realiza-lo, o dispensava como
a névoa que da sua boca seca agora desfazia. O som que cada paixão lhe
arrancava era razoavelmente bom, mas tão passageiro quanto os desejos que
tinha. O mistério do seu silêncio, o jogo que sempre fazia, confundindo,
magoando, rindo-se de todos os que pensavam fazê-la de tola, era sutilmente
tragado pelo seu respirar sempre. Sua frieza era mística e portava beleza
inatingível, mesmo sendo esta, dolorosa quando se achavam tê-la derretido por
inteira, não, não a tinham... Nada a faria cessar, estagnar a rotina de
simplesmente dispensar... Dispensar... Dispensar. Até algo parecer de fato
desejoso, e ela, a mulher que não prestava; que se desnudava facilmente e que
fumava ardentemente a cada paixão que achava laça-la, temer o pior...!Não, não
permitiria, fugiria, mentiria até o fim, a si mesmo se necessário fosse, pois,
amar não poderia! E ela, a mulher que não prestava, escolheu renegar o fantasma
que a perseguia, aquele que a acorrentaria num submundo tenebroso de sossego e
dor. Um fantasma chamado Amor. Ninguém a entenderia de fato, ela já havia
desistido... Apenas precisava ser exatamente assim, ser engolida por todos os
desejos do mundo que a ela buscavam, e quem sabe assim,ver-se livre do
fantasma da dor. Ela era aquela que a nenhum prestava, nem aos que a odiavam menos ainda aos que a amavam. Deseja saber se ela importava? Não. Ela
simplesmente era a mulher que não prestava...
Escritora Tereza Reche
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